12 de Abril, 18h30

lançamento no porto

Dia 12 de Abril, sábado, pelas 18h30, o Teatro Nacional São João acolhe a sessão de apresentação de OLGA RORIZ, a biografia da coreógrafa, da autoria de Mónica Guerreiro e edição Assírio & Alvim. Depois do lançamento em Viana do Castelo, dia 6 de Março, e em Lisboa, dia 7 de Abril, esta sessão no Porto contará com a apresentação de João Mendes Ribeiro e com a presença de Olga Roriz e Mónica Guerreiro, além de algumas das personalidades que deram o seu testemunho nesta biografia.

A sessão é aberta ao público e tem entrada livre.
A produção do livro foi assegurada pela Companhia Olga Roriz.

O Teatro Nacional São João, dirigido por Ricardo Pais, fica na Praça da Batalha.

7 de Abril, 18h30

lançamento em lisboa

Dia 7 de Abril, segunda-feira, pelas 18h30, o Jardim de Inverno do São Luiz Teatro Municipal acolhe a sessão de apresentação de OLGA RORIZ, a biografia da coreógrafa, da autoria de Mónica Guerreiro e edição Assírio & Alvim. Depois do lançamento em Viana do Castelo, dia 6 de Março, esta sessão em Lisboa contará com a apresentação de Miguel-Pedro Quadrio (professor universitário e teatrólogo) e a presença de Olga Roriz, Mónica Guerreiro, Manuel Rosa (editor) e Gil Mendo (autor do prefácio), além de muitas das personalidades que deram o seu testemunho nesta biografia.

A sessão é aberta ao público e tem entrada livre.
A produção do livro foi assegurada pela Companhia Olga Roriz.
O São Luiz Teatro Municipal, dirigido por Jorge Salavisa, fica na Rua António Maria Cardoso, n.º 38, ao Chiado.

teaser

"Estamos no Verão de 1971. No edifício que seria o Centro de Congressos do Estoril, por detrás do Casino, dezenas de alunos de dança encontram-se numa das mais apetecíveis aulas do curso desse ano: o bailarino e mimo nova-iorquino Adam Darius, radicado em Helsínquia, percorre o mundo com as suas oficinas de movimento. Maria Pinto, que foi pianista do Ballet Gulbenkian, acompanha. Darius pede-lhe uma rapsódia de temas e sugere a cada aluno que improvise uma dança enquanto ouve. Olga Roriz, que na altura fazia 16 anos e era aluna de Anna Ivanova no Centro de Estudos de Bailado, no Teatro Nacional de São Carlos, sente-se pequena naquele espaço, repleto de gente das mais diversas idades. Está lá por recomendação: a exigência e o rigor a que se habituara não se compadeciam com os três meses de férias que então o Verão significava. E uma bailarina, ainda para mais uma bailarina de Anna Ivanova, não podia dar espaço de manobra à indisciplina. (...)

Deixo-vos inteiramente livres e soltos, dancem ao som das várias músicas, era o repto. No final, aquela rapariga terá feito algo de diferente: o mimo aponta para Olga, chama-a à frente e pergunta-lhe se pode repetir o que tinha feito, para mostrar aos outros. Além de se lembrar exactamente dos movimentos que, instantes antes, tinha improvisado, terá executado a sequência ainda melhor — agora, que não havia gente à volta, tinha mais espaço, estava à vontade. Quanto terminou, Adam Darius apontou aquele como o exemplo de uma coreografia bem construída, qualquer coisa com princípio, meio e fim: estão a ver, ela fez assim, depois evoluiu por ali, ali fez um círculo e depois terminou, no mesmo sítio mas não exactamente da mesma maneira. Apesar de ter dirigido workshops em mais de 80 países, Darius ainda se recorda deste episódio, daquela menina novinha, que se realçou dos outros, a quem pedi que fizesse o solo. É que havia ali um potencial, qualquer coisa de muito especial e promissor. (...)

Olga Roriz fez-se uma bailarina singular, mas rapidamente se tornou claro que a criação de movimento seria central na sua carreira. Foram inúmeras as pessoas que, ao longo da vida, a estimularam a perseguir esse talento. E a primeira dessas pessoas foi alguém totalmente inesperado. Fiquei realmente surpresa quando ele me ofereceu um dos seus livros e escreveu a dedicatória: «to little Olga, who I’m sure will be a big choreographer». Um profissional com algum peso, estrangeiro, que me via pela primeira vez, escrever uma coisa dessas, deu-me imensa força.

Ainda antes de aprender a dançar, já a pequena Olga ensaiava coreografias: contavam os pais e lembra a irmã que montava em casa pequenos espectáculos, puxava os estores, criava o ambiente e fazia umas danças. Tão tenra quanto aos três anos, a evidente inclinação para a dança chamou a atenção da educadora do jardim-escola: Manuela Pacheco observava que a criança não só gostava muito de dançar, como o fazia com uma concentração especial, incentivando a que os outros meninos a observassem. A educadora conseguia mesmo capitalizar essa curiosidade, prometendo antes da hora da sesta: se os meninos se portarem bem, depois a Olguinha dança para vocês. (...) A aptidão precocemente demonstrada levou o casal, na altura em que a menina fazia quatro anos, a tomar uma decisão que poderia ser vista como insensata: mudar a família para Lisboa, onde a filha teria como amadurecer essa vocação. (...)"

o prefácio de Gil Mendo

"Recordar o que tem sido a carreira artística de Olga Roriz, descobrindo, pelo caminho, as suas memórias, os seus fundamentos e as suas repercussões, é também recordar algumas décadas da dança em Portugal, desde a criação do Centro de Estudos de Bailado, no Teatro Nacional de São Carlos, e depois a reforma do Conservatório Nacional e a criação da sua Escola de Dança, passando pelos anos agitados imediatamente a seguir ao 25 de Abril de 74, a criação da Companhia Nacional de Bailado, a renovação estética do Ballet Gulbenkian sob a direcção de Jorge Salavisa, os primeiros ensaios de uma dança independente, a pulsão cosmopolita dos anos oitenta, o cruzamento de linguagens e as colaborações artísticas, essa redescoberta do mundo que foram os Encontros Acarte, as rupturas estéticas e a eclosão do movimento da nova dança, o reconhecimento da existência de uma dança independente e a proliferação de estruturas e de projectos a partir de meados dos anos noventa, até à grande diversidade e relativo apaziguamento que hoje conhecemos.

Olga Roriz tem tido um papel de destaque em praticamente todos os movimentos importantes das últimas três décadas de dança em Portugal, sem ter ficado aprisionada em nenhum deles, sinal da sua independência e da sua individualidade artística. Afirmou, desde jovem, uma personalidade criativa ímpar. Quem, daqueles que tivemos a possibilidade de o testemunhar, não recorda com emoção as estreias de Lágrima, de Espaço Vazio, de Casta Diva, de Terra do Norte, de As Troianas, de Jardim de Inverno, de Treze Gestos de Um Corpo, de Isolda, de Propriedade Privada? Quem não recorda a surpresa daquela dança inesperadamente próxima da terra, assumidamente sexuada, que não procurava sublimar nem estilizar a paixão e o conflito? Quem não recorda o fascínio, a expectativa de um maravilhoso mundo novo e sem barreiras, suscitados por Teatro de Enormidades Apenas Críveis à Luz Eléctrica?

Coreógrafa e intérprete do Ballet Gulbenkian, aí afirmou a sua personalidade e o seu espírito inovador. Coreografou para a Companhia Nacional de Bailado, e também aí o peso de uma companhia de repertório clássico não a inibiu de criar uma das mais fortes peças da sua carreira, As Troianas. Quando sentiu que o espaço das companhias formais não era adequado para os seus projectos, criou-os independentemente e em espaços alternativos, sendo das primeiras a fazê-lo, em colaboração com outros criadores e intérpretes que igualmente marcaram a viragem cultural importante que se deu em Portugal a partir dos anos oitenta. Quando entendeu que isso era o mais indicado para o prosseguimento dos seus projectos artísticos, criou a sua própria companhia de autor. Tem procurado sempre ter a estrutura adequada para cada uma das suas criações, mas não se deixar aprisionar, ou condicionar, pela estrutura.

As suas criações espelham a mulher que Olga Roriz é: ciosa do rigor e do domínio perfeito do seu métier, apaixonada pela vida, pelo mundo, pelas pessoas.

Este livro de Mónica Guerreiro constitui um repositório ímpar de documentação e testemunhos sobre Olga Roriz, sobre cada uma das suas criações, e sobre sucessivos períodos e contextos na história da dança em Portugal nestas últimas décadas. Nele reencontramos os críticos que ao longo do tempo foram escrevendo na imprensa portuguesa e, através dos seus textos, podemos aperceber-nos do contexto que rodeou determinada criação e das questões que à época dominavam a actividade coreográfica em Portugal. Encontramos o testemunho de outros criadores e de muitos intérpretes que são quem dá corpo à nossa memória e ao nosso património coreográfico. E cada testemunho dá-nos um precioso depoimento sobre os processos de criação e uma visão sobre uma época ou sobre o contexto específico em que tal ou tal criação se processou. Encontramos o testemunho de cenógrafos, ou de desenhadores de luz, e também eles, com os seus depoimentos, nos dão um retrato plural, vivido, dos contextos que rodearam as criações de Olga Roriz.

Dando voz a todos estes outros protagonistas da vida coreográfica portuguesa das últimas décadas para traçar o retrato multifacetado da protagonista central desta obra, Mónica Guerreiro proporciona-nos, assim, um documento utilíssimo sobre Olga Roriz e as suas obras e, simultaneamente, sobre a história recente da dança em Portugal."

a introdução de Mónica Guerreiro

COMEÇAR PELO F.I.M
"O primeiro espectáculo de Olga Roriz a que assisti ao vivo foi a estreia absoluta de F.I.M. (Fragmentos.Inscrições. Memórias), no início de 2000 no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian. A artista regressava à casa que a viu crescer com uma antologia, um trabalho costurado a partir de excertos e memórias de criações anteriores. A ocasião era paradoxal logo no anúncio: estreia absoluta? Esperavam de mim que escrevesse sobre o que tinha visto. Mas como se percebe um espectáculo destes, feito de passados múltiplos que agora se recuperam e transfiguram — porque não poderão já ser a mesma coisa — sem se ter visto ainda nenhum dos que lhe dão origem? Escrevi então: o regresso de Olga Roriz ao Ballet Gulbenkian, depois de sete anos de ausência, assinala-se com uma peça que faz jogar, não de forma inocente, os conceitos de tempo e memória (Blitz, Janeiro de 2000). E tanto me escapou, verifico agora.
Quando o projecto deste livro começou a ser delineado, posso dizer que conhecia já muito melhor a sua obra: horas de visionamentos em vídeo das décadas de 80 e 90, além das criações que sucessivamente estreou e repôs entre 2000 e 2006, informaram a minha introdução à cosmogonia Olga Roriz. Mas nunca, na verdade, deixei de sentir que estava aquém da inteira percepção das suas motivações e propósitos. Ao longo destes anos fiquei a conhecer uma mulher como haverá poucas. A vivacidade, o ânimo com que relata as suas histórias, como as ilustra desenhando com o seu corpo, como testemunha uma alegria de viver que contrasta com a imagem distante que criou na vida social, foram as primeiras surpresas. Mas impressionou-me principalmente a enorme disponibilidade e paciência, e a desarmante honestidade. A força incontornável da Olga é a sua feroz autenticidade, para consigo própria e para com os outros. Não são só qualidades valiosas: são os pigmentos que desenham um talento reconhecido. Mas também são as características que condicionaram uma vida e um percurso profissional, cuja história aqui em parte se relata.
Esboçar uma biografia, seja ela qual for, implica mais do que uma viagem no tempo: implica viajar ao interior de uma pessoa. É necessário cartografar e explicar os acontecimentos importantes, mas também transpor o muro que existe para além desses e retratar um ser, em carne viva, com corpo e com espírito. Para tanto, os conhecimentos objectivos não me chegaram, porque precisava tomar o pulso àquela pessoa, ao seu ímpeto criativo, ao seu pensamento; entrar nesse mundo contraditório e apaixonante. Conhecê-la, através de muitas horas de conversas a duas, foi o meu primeiro passo nessa viagem.
O processo de investigação e reconstituição de memórias, que se lhe seguiu, foi longo mas inestimável. Permitiu-me multiplicar os olhares sobre factos partilhados, segundo a noção de que a memória não é um documento mas que é muitas vezes a sua clarividência que ajuda a iluminar aspectos menos conhecidos ou não consensuais. Por isso, tenho uma enorme dívida de gratidão para com os quase 50 entrevistados que aceitaram dar o seu testemunho (porque houve quem não aceitasse) sobre esta mulher que não convoca unanimismos. Todas as declarações cuja origem não surge referenciada em rodapé resultaram de entrevistas conduzidas por mim, especificamente para este livro, entre Setembro de 2003, quando entrevistei Carlos de Pontes Leça, e Abril de 2006, data da conversa com Margarida de Abreu.
Quando chegou o momento de deitar mão a todo o material reunido, este livro poderia ter tomado múltiplas formas. Eis aquela que ficou: capítulos com uma baliza temporal, cronológica, epigrafados por declarações reveladoras desse intervalo, e intercalados por secções intermédias, que focam mais detalhadamente uma criação representativa daquele tempo e que se querem ler como programas de espectáculos. Não foi pacífico fixar uma estrutura e ser-lhe fiel. Até pelas constantes inflexões que a narrativa impunha, que conduziram à necessidade de desmontar períodos de autêntica sofreguidão produtiva. Mas a maior dificuldade foi assegurar que as diversas hipóteses de abordagem ao seu trabalho eram contempladas. Porque, afinal, como escreveu Jorge Listopad, Olga Roriz é um caso à parte na panorâmica de novos factos da dança contemporânea. As suas coreografias são revigorantes: o carácter teatral dessa dança, o cunho épico-dramático, suscita simpatia, empatia, porventura antipatia, nunca apatia. A sua linguagem próxima de um «novo expressionismo», na origem da sua carreira, espontânea, selvagem, interessa tanto aos baletómanos como à gente do teatro. Inquieta e ligeiramente inquietante, soube assaz metodicamente traduzir para a «sua cena» os fantasmas de várias épocas e estilos, superá-los, traduzindo-os para a sua linguagem. Apenas podia estranhar-se que ainda não se tenha feito um estudo mais detalhado das modificações resultantes da sua prática (Diário de Notícias, Fevereiro de 1990). Só que, todos estes anos passados, já existem os estudos académicos. Também existem muitas, muitas centenas de páginas de artigos, entrevistas, críticas, perfis. Faltava, a meu ver, cruzar toda essa informação, para fornecer não apenas a história da acção artística da coreógrafa, mas também um relance sobre a sua vida. Porque há algo para que apontam todas as fontes consultadas e que é confirmado pelas pessoas que entrevistei: a obra de Olga Roriz não pode ser dissociada da sua vida. As suas peças revelam, de modo despudorado, as suas opções e obsessões pessoais, aquilo que a perturba e entusiasma, e aquilo que vive. Apresentando a uma jornalista as suas fotografias dilectas, a criadora disse mesmo: nesta, estava a trabalhar em Felicitações Madame, apesar de estar na praia, porque não há uma separação entre a minha vida pessoal e a profissional. Por mais fotografias da minha vida pessoal que escolhesse, elas estariam sempre ligadas a momentos da minha carreira. A fotografia foi tirada dia 8 de Agosto de 2005, no seu 50.º aniversário. Ainda nesse ano, completaria 30 anos de profissionalização e 10 anos sobre a fundação da Companhia Olga Roriz. Pouco antes, tinha sido homenageada pelo Presidente Jorge Sampaio no Dia Internacional da Mulher, e tinha-lhe sido entregue (ex aequo com Rui Horta), pelo Ministério da Cultura, o Prémio Almada. Este livro surge, portanto, depois de um tempo de celebração e balanço. Mas não quer ser um livro comemorativo. Também não quer ser uma história da dança em Portugal dos últimos 30 anos: outras personagens dessa história são referidas, mas em função da protagonista, na medida em que se relacionaram com ela ou como a ajudaram a definir-se. Este livro quer ser o repositório de uma história, a história que fazia falta contar, sobre a artista e a mulher Olga Roriz. Foi isso que quis fazer quando o imaginei e foi isso que propus à Olga quando a desafiei a embarcarmos nesta aventura. Por uma feliz conjugação de vontades e oportunidades, e contra o cepticismo inicial, ele aqui está.
Agradeço à Olga ter-me confiado as histórias da sua vida, ter tornado possível entrar no seu mundo e dar-se a conhecer da forma generosa e reveladora que aqui partilho. Estendo o agradecimento ao Pedro Quaresma, ao Manuel Rosa, à Rita Lynce e ao Gil Mendo, peças basilares desta produção, e a todas as pessoas — tantas que são inumeráveis — que com o seu pensamento, as suas memórias e os seus arquivos contribuíram para que pudesse traçar o retrato mais completo possível. Por fim, agradeço aos amigos que, com a sua leitura atenta e crítica, me foram encaminhando nesta viagem, e ao Rui, que tantas vezes foi a minha incansável âncora.
Dedico este trabalho às pessoas mais inspiradoras do mundo: a Diana, a Katia, a Mariana, a Sofia, o Jorge e a Nicole.